Por Elvio Filho
Conhecer o lado humano de um gênio. E o melhor: através dele próprio e de pessoas próximas a ele. Pois essa é a experiência proporcionada pela leitura do livro Mozart: sua vida em cartas.
Qual é a melhor forma de conhecer a vida e a personalidade de alguém que já se foi há muito tempo? Talvez, por meio de biografias. Mas me parece que estas sempre vêm carregadas, em maior ou menor grau, da subjetividade do autor que as escreve. Por mais que haja um esforço por parte do escritor em se manter isento (se essa for a proposta), resquícios de sua relação com o biografado estarão presentes no texto, influenciando o enfoque que será dado e, por conseguinte, o resultado final: o modo como o personagem será apresentado.
Em minha opinião, para atingir o objetivo da pergunta acima, melhor que as biografias, são as cartas – correspondências mantidas ao longo de uma vida que revelam boa parte do jeito de ser de um personagem, tanto em relação à vida privada, quanto à social. Principal vantagem sobre as biografias: nas cartas, o próprio personagem é o autor, ou seja, é ele quem as escreve, e o faz, geralmente, sem a preocupação de apresentar a si mesmo para um público. E é isso que se pode ver ao ler Mozart: sua vida em cartas.
O livro
Resultado de uma compilação e adaptação de Gloria Kaiser, o livro Mozart: sua vida em cartas, publicado pela editora Reler, apresenta ao leitor uma série de correspondências do compositor austríaco com pessoas que fizeram parte de sua vida, como o pai, Leopold Mozart, a mãe, Anna Maria, a irmã Marianne e ainda a esposa, Constanze, entre outros.
Leopold Mozart
Marianne Mozart, ou simplesmente Nannerl.
Obviamente, não se trata de todas as cartas da vida de Mozart, mas sim de uma seleção entre aquelas escritas por ele em diferentes fases da vida. Por exemplo, o livro começa com uma carta de Mozart pai. Na correspondência datada de 28 de janeiro de 1756, Leopold relata a parentes o nascimento do filho:
“Afinal, posso felizmente anunciar que, em 27 de janeiro de 1756, por volta das oito horas da noite, minha esposa deu à luz um menino.
Hoje, 28 de janeiro de 1756, nós o batizamos e lhe demos os nomes Johannes Chrysostmus Wolfgangus Theophilus. Seu padrinho, Johann Theophilus Pergmayr recomendou que déssemos ao nosso filho os prenomes Wolfgang Amadeus, equivalentes aos de batismo, para que ele os usasse em sua vida diária.
Wolfgang Amadeus é forte e saudável, e, seguindo o conselho da parteira, vamos alimentá-lo com sopa de aveia e não lhe daremos nada de leite materno.
Tudo o mais que essa criança nos trouxer será aceito por nós, com toda a gratidão, como dádiva de Deus.”
A partir daí, segue-se uma série de cartas que revelam a serelepe infância e adolescência do compositor, passando pelos sucessos e infortúnios da vida adulta e terminando com os melancólicos dias finais do compositor. Mas paro por aqui. Não vou revelar mais nada porque senão perde a graça!