Por Turi Collura
Você conhece o Gotye interval? É algo que músicas de grande sucesso de artistas como Miley Cyrus, Katy Perry, Bruno Mars, e Enrique Iglesias têm em comum.
Poderia ter chamado esse post de “Toda a música Pop é igual”… mas há pouco tempo escrevi sobre outras analogias musicais no meu artigo intitulado “Pop: quatro acordes que podem mudar a sua vida”.
Aqui escolhi usar o nome “Gotye Interval” – nome com a qual ficou conhecida internacionalmente essa pesquisa – para mostrar um fenômeno recente muito interessante.
Vamos logo ao vídeo para mergulharmos no assunto:
… Eu ouvi você dizendo “incrível!”?
É claro que, apesar do nome “Gotye interval”, não se trata apenas de um simples intervalo, mas sim de um motivo, ou seja, uma breve frase melódica composta por algumas notas. Nesse caso, a parte que nos interessa é composta pelo intervalo de sexta menor ascendente – alcançado sempre no tempo forte – que, em seguida, desce de um semitom – dessa vez antecipando o tempo forte.
Alguém disse, recentemente, que o Gotye interval é um monumento dos autores de canções à preguiça mental. Por outro lado, talvez, represente também a preguiça do grande público, que quer ouvir o que já conhece. Fato é que essas cinco músicas entraram na lista das “Cem mais” da Billboard, o que significa MUITO dinheiro para o mercado musical.
O nome Gotye interval vem da música Somebody “That I Used To Know” de Wouter Andre “Wally” De Backer, cantor e compositor belga-australiano artisticamente conhecido com o nome Gotye (confesso que a sua música não me exalta, mas faço uma menção de louvor aos seus videoclipes, entre os quais os das músicas Giving me a chance ou Easy way out).
Mas… alguém aqui lembra do tema principal do filme BATMAN de 1989? A música é de Danny Elfman:
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A semiótica musical é a ciência que estuda os signos e os “gestos musicais” relacionando-os a significados. Segundo essa disciplina, cada intervalo pode ter uma conotação peculiar que nos remete a uma determinada emoção.
Vamos falar aqui do “intervalo do coração”, ou seja, do intervalo de sexta maior e menor.
A definição do intervalo de sexta como “intervalo do coração” é dada pelo semiólogo e musicólogo Gino Stefani pela sua forte capacidade de manifestar sentimentos em música. Bem sabiam disso os italianos compositores de Opera, os compositores de músicas para cinema ou de musicais da Broadway…. e os que hoje tentam faturar milhões de dólares com músicas de sucesso.
Vejamos: a sexta menor manifesta emoções como saudade, tristeza, melancolia. Pensemos em temas como “Manhã de Carnaval” ou na trilha musical do filme “Love Story”. O intervalo de sexta menor com que começam essas melodias define seu caráter melancólico.
Love story:
Manhã de carnaval:
Diferente do intervalo de sexta menor, o de sexta maior manifesta, na semiologia musical, alegria, algo “para cima”. Pensemos, por exemplo, em músicas como “My Way” popularizada por Frank Sinatra ou na ária “Libiamo” da Opera “La Traviata” (Giuseppe Verdi):
Ária “Libiamo” de “La Traviata” de Giuseppe Verdi
Assim, maior ou menor que seja, o intervalo de sexta, ou “intervalo do coração”, é um ótimo veículo de emoções, tristes ou alegres.
O intervalo de quinta justa é tido, pela semiótica musical, como um intervalo forte, “afirmativo”. Vejamos, a seguir, dois exemplos de como esse intervalo tem sido utilizado nesse sentido. Ambos os exemplos estão na tonalidade de Dó para facilitar a comparação.
Tema principal de “Superman“:
Tema principal de “Guerra nas estrelas“:
O que acontece quando juntamos os intervalos de sexta menor e de quinta?
Temos aí o que ficou conhecido como Gotye interval: uma sexta menor de emoção … seguida por uma afirmação! A receita está dada.
Até a próxima!