Por Turi Collura
Olá a todos! Neste artigo, quero analisar uma das músicas mais bonitas de Tom Jobim (como escolher, entre tantas maravilhas?): Luiza, publicada, pela primeira vez, no disco Passarim, em 1987 e que rendeu ao compositor um disco de ouro.
Na ficha técnica lemos que o disco foi gravado no estúdio Transamérica, no Rio de Janeiro, e mixado em Nova York. Mas fontes nem tanto segredas (veja a biografia do jornalista Sérgio Cabral – sim, o pai do político, a quem deu o mesmo nome) revelam que as gravações de Jobim ao piano e dele cantando foram feitas na sua própria casa, onde os engenheiros improvisaram uma gravação antes de levar o projeto para o estúdio.
Para esse estudo, preparei um vídeo em que comento a harmonia da música:
Algumas considerações sobre a análise harmônica na música popular.
Nos estudos harmônicos de música popular, não costumamos estudar, de maneira aprofundada, o movimento das vozes, isto é, não estudamos aquilo que se chama de condução das vozes, na passagem de um acorde para outro. Estou me referindo àquele estudo tradicional da harmonia que tem a sua origem no assim chamado contraponto, e que, num determinado momento da história, passou a ser baseado em regras e proibições – nessa última categoria encontramos, por exemplo, as quintas e oitavas paralelas. Isso hoje não faz mais sentido.
Por um lado, a abordagem prática da música popular nos oferece a possibilidade de alcançarmos uma visão global da harmonia muito rapidamente. Por outro lado, porém, corremos o risco de perdermos detalhes importantes para uma compreensão mais profunda. No meu Curso Online de Harmonia aplicada à Música Popular, busco evidenciar essas nuances harmônicas.
Vejamos um exemplo que possa elucidar o que estou dizendo: vamos pegar o acorde de Fm(7M) que se encontra no nono compasso da música Luiza. Como interpretar a 7ª maior em desse IV grau menor? Podemos observar que a 7ª maior do acorde de Fm é a nota mi natural. O acorde que antecede o Fm é seu dominante: C7. O 3º grau de C7 é aquela “nota importante” – faz parte do trítono do acorde – que resolve um semitom acima quando a harmonia “resolve” no acorde sucessivo.
No nosso caso, na passagem do acorde de C7 para Fm, temos um retardo da resolução, ficando, ainda por um tempo, a nota mi como tensão não resolvida, até que essa nota se movimente – no nosso caso até que o acorde se transforme em Fm7. Observamos agora que a análise tradicional, que leva em conta o movimento das vozes, nos ajuda a entender essa passagem. Esse tipo de estudo, nos permite descobrir uma voz interna em um trecho da música, indicada em vermelho:
Observar esse tipo de movimentos internos é muito útil para evidenciarmos linhas secundárias em nossos arranjos (pense, por exemplo, em dar essa linha para uma viola, para um sax ou, ainda, para um trombone).
Uma minha interpretação da música:
Concluindo
Com o passar do tempo, presenciamos, na harmonia tonal, o que chamamos de “emancipação das dissonâncias”, ou seja, ganhamos maior liberdade de movimento entre as vozes. Observar o movimento das vozes internas na passagem de um acorde para outro nos permite entender certos caminhos harmônicos, ao mesmo tempo em que nos permite explorar e utilizar, em nossas composições, a as nuances harmônicas disponíveis.