A composição de trilhas sonoras: Ennio Morricone

Entrevista com Ennio Morricone.

(Entrevista originalmente realizada por Elizabeth Davis para o site Classic FM. A tradução e adaptação aqui presente foi feita pelo editor do Terra da Música, Elvio Filho.)

Ennio Morricone. Recentemente, o nome do compositor italiano de 87 anos – mais de 60 de carreira – voltou a ficar em evidência por conta da conquista do Oscar de melhor trilha sonora, criada desta vez para o filme Os Oito Odiados, dirigido por Quentin Tarantino. Porém, embora só agora tenha recebido o prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, o compositor, ao longo da carreira, compôs mais de 450 trilhas sonoras para filmes, o que faz dele um dos maiores de todos os tempos.

Entre suas obras, estão verdadeiros clássicos da música mundial, como as trilhas criadas para os filmes A Missão, de 1986, e Cinema Paradiso, de 1988, que fazem deles filmes inesquecíveis na história do cinema. Então, quem melhor do que ele próprio para falar sobre seu ofício? E é isso o que você pode ler logo abaixo!

Primeiramente, como você começa uma composição?
Tudo tem início com uma ideia, é a primeira coisa que eu busco. Não se pode pôr nada no papel se você não tem uma ideia, e isso vale tanto para poesia quanto para música. Então a primeira coisa é passar por este processo, o que às vezes é algo muito exaustivo para mim, e que exige muito esforço, porque você não pode parar e se dar por satisfeito com a primeira ideia que aparece. Você deve examinar e analisar cuidadosamente todas as diferentes ideias e então encontrar aquela que possa ser flexível e se adaptar melhor às necessidades do filme.

Quando eu digo “ideia”, quero dizer aquela coisa mínima ou minúscula que, em minha opinião, poderia se transformar em algo maior, que poderia ser desenvolvida a ponto de se tornar uma composição musical propriamente dita. “Não se pode pôr nada no papel se você não tem uma ideia, e isso vale tanto para poesia quanto para música”

E quanto às melodias, de onde você tira suas ideias para elas?
A resposta é simples: eu não sei. Mas, pela minha experiência, para escrever uma boa melodia, deve-se sempre ter em mente que ela é um discurso horizontal – exclusivamente horizontal – dos sons, que caminham e poucas vezes se repetem. Cada som deve ser uma novidade, algo diferente para o ouvinte. Se houver repetição, que se repita de uma maneira que cada nota possua um valor diverso. Então, um som pode ser idêntico a outro em termos de métrica, mas ele deve soar diferente aos ouvidos do ouvinte. Criar sempre algo novo, isso é o mínimo que eu posso dizer sobre construir uma melodia.

Posso acrescentar que a escolha dos intervalos entre uma nota e outra deve ser diversa, para evitar que haja poucas diferenças entre um som e outro e se mantenha essa ideia de novidade na melodia. O desenho melódico deve ser variado. Mas não há uma regra. Nos conservatórios e escolas de música, eles não ensinam como escrever uma melodia.

 

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Algumas pessoas dizem que essa habilidade seria fruto de uma inspiração, mas não é verdade, e eu só descobri isso muito tarde em minha carreira.

Naturalmente, as possibilidades são enormes. Na verdade, é possível utilizar intervalos pequenos entre as notas, ou talvez abrir mão de intervalos, fazendo com que a melodia se torne uma espécie de linha horizontal. Mas também se pode construir, como eu disse, uma linha melódica mais desenhada, com movimentos ondulares. A trilha de Cinema Paradiso (filme de 1988 dirigido pelo diretor italiano Giuseppe Tornatore, com música de Ennio Morricone. Tornou-se um clássico na história do cinema.) é um exemplo disso.

Que tipo de conselho você daria a um compositor de trilhas sonoras iniciante?
Primeiro: ele deve ter certeza que ama profundamente esse trabalho, e então estudar e procurar praticar. Depois, a coisa mais importante é encontrar o professor certo, porque nem todo professor terá a capacidade de ensinar, e então será perda de tempo. “O aluno iniciante deve ter certeza que ama profundamente esse trabalho”. Mais tarde, o aluno deve ser capaz de olhar para dentro de si mesmo, para saber se ele está à altura desse desafio, se ele pode produzir e exprimir algo de original porque, do contrário, é perda de tempo.

Ele terá dedicado muitos anos aos estudos, e talvez acabe descobrindo que, do ponto de vista técnico da música, é competente, porque estudou todos os grandes compositores do passado, como Beethoven, Mozart, Stravinsky, entre outros… Mas se não encontra algo dentro dele mesmo que possa levá-lo a produzir algo original e único, então é perda de tempo.

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Ennio Morricone: “o aluno deve saber escrever músicas no estilo de Bach, Mozart ou Stravinsky. O aluno deve estudar e experimentar estilos composicionais de épocas passadas, deve ser capaz de escrever música como ela era nesses períodos. Chegando ao fim de seus estudos, é fundamental ao aluno saber escrever músicas no estilo de Bach, Mozart ou Stravinsky. Uma vez dominada essa capacidade, terá possibilidades técnicas de criar algo novo.

O estudante deve estar realmente focado em seus exercícios, tentando escrever música, mesmo imitando o estilo de grandes compositores, mas, depois, deve superar essa fase e criar algo original. Se não for assim, ele vai ser apenas um imitador. Por exemplo, eu tenho um grande amigo com quem estudei que se apaixonou profundamente pela música de Frescobaldi (Girolamo Frescobaldi (1583-1643), compositor barroco italiano). Ele ficou realmente bastante obcecado por esse compositor, e aí começou a escrever exatamente como Frescobaldi escrevia, mas não conseguiu superar essa fase, o que fez com que ele não se desenvolvesse mais além disso. 

Qual é a trilha sonora de Ennio Morricone preferida por Ennio Morricone?
Há muitas preferidas, a lista seria muito grande. Mas o que eu posso dizer é que às vezes minhas preferidas são aquelas que me exigiram maior esforço para compor, ou aquelas criadas para um filme que eu particularmente me importei mais. Talvez elas não sejam as mais apreciadas pelo público, mas eu gosto delas porque eu tive muito trabalho para criá-las. São mais contrapontuais ou possuem partes desafiadoras, as pessoas em geral não percebem isso e não prestam atenção a essas coisas. Mas eu gosto bastante de Cinema Paradiso e O Oboé de Gabriel (música composta para o filme de 1986 A Missão, dirigido por Roland Joffé. Ouça abaixo.

(Para acessar a entrevista original, clique aqui.)

 

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