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Série Cordas Brasileiras: As origens – cordas dedilhadas no Brasil

Menestréis com viela e alaúde.

Série Cordas Brasileiras: As origens – cordas dedilhadas no Brasil

Por Fernando Duarte

É com grande prazer que inicio essa colaboração com o Terra da Música para conversarmos sobre as cordas na música brasileira. Neste espaço vamos conhecer como os instrumentos de cordas dedilhadas (os de arco ficam para outra oportunidade) ajudaram a formar a nossa música popular e os nomes de alguns músicos importantes para essa história.

Mas antes de falar de amigos íntimos como o violão, o cavaquinho, a guitarra ou o bandolim vamos olhar para trás, para a trajetória de seus antepassados quando o Brasil ainda não era o país que conhecemos. Sabemos que instrumentos de cordas dedilhadas estão entre os mais antigos do mundo, desde pré-históricas tentativas de esticar uma corda para fazer som até as famosas harpas dos gregos. Na Península Ibérica, a presença árabe entre os séculos VIII e XV trouxe ainda contato com novos elementos, como o alaúde.

Na foto, Muçulmano e Cristão em ilustração das Cantigas de Santa Maria (Portugal, século XII).

Abaixo, ouça a sonoridade do alaúde árabe, tocado aqui pelo marroquino Nasser Houari:

 

 

Embora existam diversos instrumentos com modelos, números de cordas e afinações diferentes sob as denominações de “viola” ou “guitarra”, sabemos que no século XV, em Portugal, eles eram os companheiros de um novo tipo de músico urbano, voltado para a prática solitária da música. Esse momento coincide com os grandes descobrimentos e os instrumentos de corda soam no Brasil desde os primeiros anos da colonização.

 

Trazidos pelos europeus, sua presença pode ser comprovada em inventários, testamentos e relatos de viajantes. Alguns estudiosos chegam a afirmar que a primeira missa rezada no Brasil foi acompanhada por música de cordas. No entanto, o repertório que era tocado ainda é pouco conhecido e vem sendo aos poucos revelado pela pesquisa musicológica. Um dos instrumentos importantes do período, cujo repertório ainda é bastante tocado pelos violonistas, é a guitarra barroca.

 

Escute abaixo Canarios, música escrita em 1674 pelo compositor espanhol Gaspar Sanz, interpretada à guitarra barroca por Diogo Rodrigues:

 

No Brasil colonial os instrumentos de cordas dedilhadas tocaram música instrumental, danças e acompanharam música cantada. Além disso, tiveram contato com o elemento musical africano, trazido pelos escravos, importantíssimo para nossa identidade brasileira.

 

A famosa representação da Dança do Lundu, do pintor alemão Rugendas, mostra um grupo de brancos (incluindo um religioso) e negros observando a dança de um casal animado por um instrumento de corda.

Quadro A Dança do Lundu (1835), do pintor alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858).

 

A chegada desses instrumentos no Brasil foi apenas o início de um longo trajeto das cordas dedilhadas no país. Nos próximos artigos vamos falar sobre os instrumentos modernos que contribuíram para a consolidação da identidade musical brasileira.

 

Até a próxima!

Fernando Duarte

Bandolinista e compositor, mestre em Práticas Interpretativas na UFRJ, licenciado em Música pela UFES, bacharel em Comunicação Social pela mesma instituição e formado em Música Popular na FAMES, Fernando é autor de alguns livros sobre choro e bandolim.

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