
Da Praça Onze à Sapucaí: um breve histórico das Escolas de Samba
Por Elvio Filho
“Vão acabaaar com a Praça Onze. Não vai haver mais Escola de Samba, não vaaai…”, cantava, em 1941, o Trio de Ouro, à época formado por Dalva de Oliveira, Herivelto Martins e Nilo Chagas. 75 anos se passaram e, ao contrário do que afirmava a canção Praça Onze (que você pode ouvir logo abaixo), o que vemos hoje é que as Escolas de Samba não apenas não acabaram, como não há o menor indício de que esse fato venha a se consumar num futuro próximo.
Mas por que, então, toda essa preocupação quase apocalíptica por parte dos autores da canção – Herivelto Martins e Grande Otelo – em relação às Escolas de Samba, e o que teria a ver a extinção da Praça Onze com o fim delas?
A Praça
Do final do século XIX e início do XX, até começar a ser demolida para dar lugar a uma parte da atual Avenida Presidente Vargas, em 1941, a região onde se localizava a então Praça Onze de Junho, no Centro do Rio de Janeiro, era uma verdadeira miscelânea de povos e culturas. Foi para lá que, com a abolição da escravatura, em 1888, muitos negros foram. Bem como muitos imigrantes recém-chegados no Brasil: portugueses, italianos e judeus de várias nacionalidades sendo os mais numerosos.
E é nessa época, contexto e região que entra em cena uma senhora que seria decisiva para a origem do Samba e, posteriormente, das Escolas de Samba: a Tia Ciata, baiana nascida Hilária Batista de Almeida, que promovia em sua residência festas de cunho religioso e rodas de partido-alto. O local se tornaria muito frequentado por vizinhos e pessoas de outros bairros do Rio de Janeiro, e presentearia ao mundo compositores como Donga (considerado compositor do primeiro samba a ser gravado, Pelo Telefone, em 1917), Pixinguinha e Sinhô.

Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata.
A primeira escola
Nessa mesma atmosfera surge, em 1928, fundada por alguns sambistas, entre eles o compositor Ismael Silva, a primeira Escola de Samba: a Deixa Falar. Pouco tempo depois, de sua dissolução nasceriam outras escolas, como Estação Primeira de Mangueira e Estácio de Sá.
Até que fossem criadas a Escolas de Samba, o que havia eram os chamados Ranchos e Sociedades Carnavalescas, que desfilavam no período de Carnaval, mas que aos poucos foram caindo em desuso conforme as escolas iam crescendo e se tornando cada vez mais populares.
Em 1933, organizado pelo então prefeito da cidade Pedro Ernesto Batista, é realizado o primeiro “Desfile Oficial de Escolas de Samba da Praça Onze”, que passaria a acontecer anualmente. A Mangueira foi a primeira vencedora.

Compositor Ismael Silva, um dos fundadores da primeira Escola de Samba.
A avenida
Mas, em 1941, iniciam-se as obras para uma grande avenida que cortaria o Centro em direção à Zona Norte da cidade e, no meio do caminho… havia uma praça. Sim, a Praça Onze teria de ser demolida para dar lugar a uma parte da nova avenida. Daí a preocupação dos sambistas da época; daí a relação entre a extinção da praça e o fim das escolas; daí a origem da canção de Herivelto e Grande Otelo.
As Escolas de Samba, no entanto, não deixaram de existir. Tampouco os desfiles, que continuaram a ser sediados na região da antiga Praça Onze. Primeiro, foram transferidos para a Avenida Presidente Vargas, e depois para a Avenida Marquês de Sapucaí, local onde, em 1983, foi construído o atual Sambódromo, projeto de Oscar Niemeyer.

Avenida Presidente Vargas em processo de construção.
Em 1984 é realizado o primeiro desfile no Sambódromo. Um desfile histórico no qual, mais uma vez, a Mangueira é campeã.

Sambódromo da Marquês de Sapucaí em dia de desfile.