Por Turi Collura
Conheça as formas típicas do Blues, as assim chamadas Blue notes e algumas outras características desse gênero musical tão importante para a história da música do Século XX. Com essa publicação, iniciamos uma série de quatro artigos sobre o Blues, suas características e desdobramentos.
O Blues é, certamente, um gênero musical que está à base de muita música popular desenvolvida a partir do século XX. Da mistura do Blues com o Ragtime surge o Jazz, e do Blues surge o Rock and Roll. Em um contexto religioso, o Blues está à base do Gospel norte-americano. O Blues é um gênero musical afro-americano, nascido no sul dos EUA. Seus primeiros registros são da metade do século XIX.
É um gênero oriundo dos cantos de trabalho que se difundiram entre os afrodescendentes ao longo dos séculos de escravatura. Na sua forma mais tradicional, se trata de uma música cantada, semi-improvisada, caracterizada por algumas formas convencionais, baseadas na repetição de modelos rítmico-melódicos.
(Capa de um disco famoso de Robert Johnson, um dos primeiros bluesmen)
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Observamos três acordes com estrutura de dominante, mas não com função de dominante. A harmonia do Blues funciona de forma diferente da harmonia tonal convencional. Podemos imaginar isso como uma re-interpretação de matriz afroamericana do diatonismo ocidental, com o qual os afrodescendentes entraram em contato principalmente através das igrejas. Houve então um sincretismo entre a maneira africana de entender a música e a linguagem tonal ocidental.
Observamos, na imagem a seguir, uma característica interessante:
Tradicionalmente, o Blues, enquanto gênero cantado, articulava a sua estrutura de 12 compassos em três seções (A) (A) (B). Trata-se de uma estrutura cíclica, ou seja, uma vez tocados os 12 compassos, a estrutura é tocada novamente, tantas vezes quanto os músicos quiserem, dando espaço a improvisos e variações.
Tradicionalmente, uma primeira frase (A) era entoada nos primeiros dois compassos e meio e em seguida reapresentada a partir do compasso 4. Uma nova frase (B) é entoada a partir do compasso 9, para concluir o que fora exposto na frase (A).
Um bom exemplo dessa prática de divisão de frases é o Blues tradicional “Sweet home Chicago”, de Robert Johnson.
Vejamos duas versões mais recentes dessa música:
As Blue Notes
Outra característica importante do Blues é a entoação das assim chamadas “blue notes”, em português “notas blues”. As “blue notes” são o resultado da maneira do africano entoar algumas notas do acorde. Por exemplo, para alcançar o terceiro grau da escala, ele começa abaixo de sua afinação “correta”, por volta do b3 e, gradativamente, chega até o 3. Trata-se de um atraso, ou indefinição, na entoação do terceiro grau. Vejamos no próximo vídeo como funcionam:
No Blues tradicional não existe o conceito de maior ou menor. O Blues é caracterizado pelos acordes de dominante e pela sonoridade indefinida do terceiro grau em suas melodias.
O músico de cultura africana não somente atrasa a entoação da nota “certa”, ou a deixa propositalmente indefinida, como também brinca livremente com sua colocação rítmica.
O intervalo de 3ª do-mi é entoado através do glissando:
As notas blues são hoje b3, b5 e b7. Em seu livro sobre o Jazz e suas origens, Gunther Schuller ressalta que as notas blues não nasceram todas num mesmo momento. A nota b5 foi uma aquisição posterior. A área que vai de b7 a 8 é a mais indefinida na sua entoação.
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Até lá!