OUVIR: POR UMA EDUCAÇÃO MUSICAL SENSÍVEL
Por Rosangela Lambert
Nesse artigo, a educadora musical e pianista Rosangela Lambert, reflete sobre a importância da audição, da escuta sonora, no âmbito da educação musical.
Onde se inicia a educação musical?
Não há uma resposta única. Vários educadores já responderam a esta pergunta propondo diferentes percursos de aprendizagem. No entanto, acreditamos que, inicialmente, nada mais importante do que saber ouvir.
O ouvir segundo estratégias bem definidas é o ponto de partida.
A escuta ativa
O exercício da escuta cria as condições necessárias para que a pessoa se torne receptiva ao ambiente sonoro e aprenda a pensar sobre o que ouve. Na atualidade, concentrar-se no ato de ouvir, bem como ouvir de forma ativa, está ficando cada vez mais difícil. A vinculação cada vez maior do som à imagem e os níveis de poluição sonora, principalmente nos grandes centros urbanos, são os principais responsáveis por essa dificuldade de concentração. Ouvir ativamente não significa, simplesmente, colocar o órgão auditivo em funcionamento, mas sim desenvolver a audição nas suas sutilezas e reflexos.
Teoria e prática. Vídeos e exercícios interativos para suas habilidades auditivas de reconhecimento de intervalos melódicos e harmônicos.
Segundo a educadora musical Violeta Gainza, “o ouvido é a porta de entrada, o que presencia e controla a música que é absorvida. Por isso, deixá-lo sensível, sutil, inteligente, criativo, é a melhor garantia de uma boa educação musical”. A aula de música deve ser, portanto, um excelente laboratório para experiências estéticas com o som.
Vale ressaltar que a pedagogia musical atual não se interessa apenas por sons considerados “agradáveis” ao ouvido, mas sim por todos os sons e no desafio de descobrir sua beleza potencial. Beleza esta que advém da pesquisa e do exercício cotidiano da escuta. Para o pesquisador e educador Keith Swanwick, a audição é a prioridade em qualquer atividade musical, pois ela está presente não só no ato de se ouvir a gravação de uma obra musical, como também no ato de se explorar ou tocar um instrumento, improvisar e compor.
Sob esta perspectiva, a importância da escuta enquanto “atividade” não deve ser questionada: como ela não implica necessariamente um comportamento externalizável, é frequentemente considerada a mais passiva das atividades musicais. No entanto, a aparência de uma atitude receptiva não deve mascarar o ativo processo perceptivo que acontece, uma vez que a mente e o espírito do ouvinte são mobilizados.