
Série Cordas brasileiras: o bandolim
Por Fernando Duarte
O bandolim nasceu na Itália. Seu nome (em italiano mandolino) vem de amêndoa e faz referência a seu formato original. O repertório do bandolim na música europeia inclui concertos de Vivaldi, acompanhamento de canções de Mozart, peças de câmara de Beethoven e vasto repertório romântico.
Além disso, o instrumento foi usado por importantes compositores contemporâneos como Stravinsky, Schoenberg, Webern e Pierre Boulez. Na música popular, o bandolim se adaptou a diferentes manifestações, se espalhando pela Europa, Américas, Ásia e norte da África.
Chegando no Brasil no século XIX, os imigrantes italianos trouxeram seus instrumentos e muitos fabricantes (como os conhecidos Giannini, Di Giorgio, Del Vecchio etc). O bandolim logo se misturou à música local, tanto nos salões da sociedade quanto nas práticas populares. Era comum a presença do instrumento em saraus domésticos, encontros de senhoras, escolas de música e rodas de choro. O primeiro grande representante do nosso instrumento é o pernambucano Luperce Miranda. Chegando no Rio de Janeiro no final da década de 1920, Luperce teve uma atuação marcante em rádio e gravações. Seus registros como solista são até hoje uma referência de técnica virtuosística para os bandolinistas.
O bandolim na música brasileira
No entanto, ainda faltava ao bandolim uma linguagem realmente brasileira. O responsável pela criação de uma forma própria de tocar o instrumento foi o carioca Jacob do Bandolim. Apaixonado pelo choro, Jacob trouxe elementos do samba e da música portuguesa, aliados a uma sensibilidade única e profundo domínio de técnicas de estúdio. Em suas gravações de 1949 a 1967, o carioca influenciou até na construção de um modelo brasileiro do instrumento e ergueu um legado que se tornaria o cânone do nosso bandolim. Além de instrumentista e compositor, Jacob foi um dedicado pesquisador e reuniu um importante arquivo sobre música brasileira. (para se aprofundar sobre Jacob clique aqui)
Na foto abaixo, músicos de choro no início do século XX. Bandolim (segundo músico sentado, da direita para a esquerda) entre violões, cavaquinho, oficleide e a bandola (extrema esquerda), instrumento da família do bandolim, de tessitura mais grave.
No vídeo a seguir, outro bandolinista brasileiro, o carioca Joel Nascimento, bandolinista e compositor: Congada do Sino (Pedro Sorongo Santos).
O bandolim vive hoje uma fase de valorização e exposição. O desenvolvimento do instrumento de dez cordas, o lançamento de novos materiais didáticos e o interesse de jovens músicos são reflexos desse cenário. O brasiliense Hamilton de Holanda, maior destaque do bandolim brasileiro atual, extrapolou as fronteiras do choro e da música brasileira, elevando o instrumento a uma estrela internacional com passe livre nos grandes festivais de jazz e música contemporânea. Em 2016 venceu o Grammy Latino com seu disco em homenagem a Chico Buarque.
No vídeo a seguir vemos Hamilton de Holanda e Chico Buarque (participação do pianista italiano Stefano Bollani): Vai trabalhar, vagabundo (Chico Buarque)
Na foto abaixo Hamilton de Holanda com Winton Marsalis