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Série ‘Cordas Brasileiras’: a viola caipira

Viola caipira

Série ‘Cordas Brasileiras’: a viola caipira

Por Fernando Duarte

A viola caipira (ou viola brasileira, viola de arame, viola sertaneja etc) é uma nobre descendente de antepassados barrocos trazidos pelos colonizadores. O nome vem da vihuela, antigo instrumento espanhol também conhecido como viola de mão. Acredita-se que a vihuela foi introduzida no Brasil pelos jesuítas que a usavam na catequese.

 

Veja abaixo três Fantasias do compositor renascentista espanhol Luys Milán (1500-1561), interpretadas na vihuela por Yasunori Imamura.

 

 

As variações da viola no Brasil são muitas, podendo apresentar diferentes modelos de construção, número de cordas e afinações. São a viola de samba, viola repentista, viola nordestina, viola de Buriti, viola de fandango etc. Espalhadas por todo o território nacional, representam tradições e repertórios variados. Uma das mais tradicionais é a viola de cocho, típica do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Esculpida em uma tora de madeira, é utilizada em músicas tradicionais como o cururu, siriri e o rasgueado.

 

Um exemplo da sonoridade da viola de cocho pode ser encontrado na música do compositor Daniel de Paula. Abaixo, ele interpreta Curva de Rio, composição de sua autoria.

 

 

Na região Nordeste, a viola serve de acompanhamento para as cantorias e desafios dos improvisadores populares. Veja:

 

A faceta mais consagrada da viola caipira é sua associação com a chamada música sertaneja (termo vago, que engloba diversas manifestações) do centro-sul do Brasil. Seja na música instrumental ou cantada a viola é destaque, muitas vezes em parceria com o violão. Um dos responsáveis pelo avivamento da cultura da viola a partir da década de 1960 foi Tião Carreiro, considerado o criador do pagode de viola.

Na década de 1990 a viola caipira e a cultura sertaneja foram massificadas em nível nacional com o sucesso da telenovela Pantanal, a aclamação internacional da violeira Helena Meireles e a febre midiática na nova música sertaneja romântica de duplas como Chitãozinho e Xororó. Desde então vem crescendo em repertório e como objeto de estudo acadêmico.

Imagem de São Gonçalo, considerado o padroeiro dos violeiros.

A viola é cercada de lendas e crenças populares. São Gonçalo, padroeiro dos violeiros, era conhecido por tocar e cantar em suas pregações, além de ser associado à fertilidade. São muitas as histórias de violeiros que teriam feito pactos sinistros para adquirir habilidades sobrenaturais, bem como de aparições de um virtuose da viola com cascos nos pés que some em uma nuvem de enxofre. Também é costume entre os tocadores colocar um guizo de cascavel dentro do instrumento, para garantir um bom som. Mas é preciso estar atento, pois depois de seis meses o guizo se transforma em uma cascavel!

Com o processo de urbanização, um outro instrumento vai despontar como preferido de amadores e profissionais nas cidades e se tornar um sinônimo de música popular brasileira: o violão. É sobre ele que falaremos no próximo artigo.

Fernando Duarte

Bandolinista e compositor, mestre em Práticas Interpretativas na UFRJ, licenciado em Música pela UFES, bacharel em Comunicação Social pela mesma instituição e formado em Música Popular na FAMES, Fernando é autor de alguns livros sobre choro e bandolim.

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