Por Turi Collura
Dando continuidade ao estudo de sistemas em ciclos de terças maiores e menores iniciado nos posts anteriores, vamos em busca da aplicação da multitonalidade nas canções da música popular.
Clique para ler a Primeira parte e a Segunda parte do estudo sobre a Multitonalidade.
Após a recente publicação dos meus artigos sobre os ciclos de terças maiores e menores, tenho recebido várias mensagens de leitores, perguntando se e onde podemos encontrar essa aplicação em canções populares. Alguém perguntou “será que isso existe?”. Outro leitor perguntou se, diante de progressões como as que observamos, podemos falar de modulação. As discussões ficaram muito interessantes, ao ponto que resolvi compartilhar parte disso nesta nova edição da revista. Aqui quero indicar algumas canções populares que se relacionam, de algum modo, com os ciclos apresentados anteriormente.
Dissemos, anteriormente, que no ciclo de terças menores temos 4 centros tonais preparados pelos seus acordes de dominante e/ou pelas suas cadências II-V.
O interessante é a simetria oferecida pelos movimentos dos planos tonais.
Encontramos esse tipo de sucessão harmônica na música “Setembro“, de Ivan Lins, Gilson Peranzetta e Vitor Martins:
SETEMBRO
Para TODOS os instrumentos. Quatro módulos progressivos que começam da base e chegam a um domínio total da harmonia tonal, modal e híbrida.
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Ao ouvirmos a música “Setembro”, podemos perceber que a passagem de um plano tonal para outro resulta muito natural e a música “flui bem”. Ao que se deve isso? O alemão Moritz Hauptmann (em seu livro The nature of harmony and metre) observa que, nesse tipo de movimentos harmônicos, o que torna a passagem “natural” é a escolha das notas da melodia. Criar uma melodia que passe, rapidamente, de uma tonalidade para outra, pode ser difícil, considerada a repentina mudança de alterações (Dó=nenhuma alteração; Lá=3 sustenidos, F#=6 sustenidos, Eb=3 bemóis). Hauptmann sugere o uso de notas em comum na passagem de uma tonalidade para outra. É o que observamos na música “Setembro”: a nota mi, terceiro grau da tonalidade de Dó, se torna quinto grau da tonalidade de Lá. Da mesma forma, a nota dó#, terceiro grau da tonalidade de Lá, se torna quinto grau da tonalidade de F#. A nota sib, enarmônica de lá#, terceiro grau da tonalidade de F#, se torna quinto grau da tonalidade de Eb. O ciclo pode se apresentar de forma incompleta, como acontece, por exemplo, em “Hino ao sol“, de Billi Blanco e Tom Jobim.
No caso de “Hino ao sol“, observamos apenas três tonalidades: Eb, C e A. O ciclo não se completa, mas o importante é a relação de terça entre os planos tonais.