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O blues na linguagem jazzística – parte 1

O blues na linguagem jazzística – parte 1

Por Turi Collura

Blues e jazz estão fortemente ligados entre si. Quando o jazz nasceu, entre o final do século XIX e o começo do século XX, ele se fundamentou em dois grandes “pilares musicais”: o blues e o ragtime. Podemos afirmar que sem o blues não haveria jazz.

 

O blues é um gênero musical afro-americano, nascido no sul dos EUA. Seus primeiros registros são da metade do século XIX. É um gênero oriundo dos cantos de trabalho que se difundiram entre os afrodescendentes ao longo dos séculos de escravatura. Na sua forma mais tradicional, se trata de uma música cantada, semi-improvisada, caracterizada por algumas formas convencionais, baseadas na repetição de modelos rítmico-melódicos.

 

A história do jazz está tão intimamente ligada ao blues que essa relação não pode ser facilmente resumida sem cometer erros ao tentar fazê-lo. Sem a pretensão de sintetizar o jazz e sua estética, nem sua constante relação com o blues, nesse artigo quero evidenciar alguns aspectos e algumas etapas dessa relação e de sua evolução. Que possam servir como pontapé inicial para uma busca mais aprofundada.

História do Jazz

Esse novo gênero musical evoluiu muito rapidamente em pouco mais de sessenta anos, dando vida a manifestações artístico/musicais ricas e variadas. Os músicos de jazz enriqueceram a harmonia do blues de várias formas, conforme as características de cada período, mas mantiveram, de forma geral, a estrutura de 12 compassos.

Não faltam exemplos de blues com estruturas diferentes, como, por exemplo, “More better blues”, musica que faz parte da trilha sonora do filme homônimo, cuja estrutura é de 8 compassos. Clique na imagem ao lado para ouvir esse blues muito interessante.

(na imagem, a capa do disco “More better blues”, trilha sonora do filme de Spike Lee, com Denzel Washington como ator protagonista. As músicas foram produzidas e tocadas pelo quarteto de Branford Marsalis com a participação de Terence Blanchard. No contexto dos filmes sobre jazz e blues, esse é um filme “imperdível”).

Vejamos uma forma tradicional de blues de 12 compassos. Podemos reconhecê-la na música do vídeo da música “Sweet home Chicago”:

O blues conserva até hoje as características de sua tradição. Vejamos a seguir dois exemplos mais recentes:

É importante observar que a influência do blues não se resume apenas à estrutura harmônica (observamos aqui a de 12 compassos). Sua influência se dá, por exemplo, também pelas assim chamadas blue-notes e por uma tipologia de frases idiomáticas, de glissandos e de outros elementos da linguagem que podemos observar a seguir.

No vídeo ao lado, podemos assistir a um trecho do show Playing the Blues with Wynton Marsalis. O show, promovido por Eric Clapton, reproduz, nesse trecho, a maneira típica de uma orquestra tradicional de New Orleans tocar blues.

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Podemos perceber claramente uma linguagem mais simples, em relação à sonoridade be-bop que ouvimos há pouco, mas que já opera uma clara apropriação do idioma original.

Nas décadas de 1920 e 1930, os jazzístas se preocupavam em manter suas raízes no blues. Títulos de músicas como “Learnin’ the blues”, “Birth of the blues” entre outros eram recorrentes, evidenciando uma direta ligação entre blues e jazz.

Essa estrutura de blues jazzístico cria movimentos cadenciais nos compassos 4, 8, 9-10 e um turnaround final (o turnaround é um clichê harmônico composto pelos acordes I-VI-II-V do campo harmônico):

No idioma jazzístico, a harmonia se torna mais rebuscada, mas o que certamente ressalta é a evolução da linguagem improvisativa.

No próximo bloco assistimos a um clássico da cantora Billie Holiday, cantando Fine and Mellow, e a um show recente de Diana Krall, que convida ao palco outra grande cantora: Natalie Cole. Blues e jazz, blues na linguagem do jazz.. a sonoridade resulta bem evidente.

E por falar em blues e jazz, em canadenses e em pianismo, não podemos deixar de citar Oscar Peterson, com sua linguagem exuberante:

Turi Collura

Turi Collura é pianista, compositor, músico profissional. Atua como professor em Cursos de Pós-Graduação, em Conservatórios e Festivais de música pelo Brasil e no exterior. Formado na Itália em Disciplinas da Música (Bolonha) e na Escola de Jazz (Milão), é Mestre pela UFES, e Pós-graduado pela mesma Instituição. Turi é Coordenador Pedagógico do Terra da Música e Professor de alguns cursos online. É autor de métodos em livros e DVD (Improvisação, Piano Bossa Nova, Rítmica e Levadas Brasileiras para Piano), alguns dos quais publicados pela Editora Irmãos Vitale e com tradução em inglês. Ativo na cena musical como solista, músico de estúdio e arranjador, tem participado da gravação/produção de diversos discos. Em 2012, seu CD autoral “Interferências” ganhou uma versão japonesa. Seu segundo CD faz uma releitura moderna de algumas composições do sambista Noel Rosa.

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