
Cada nota da escala com sua personalidade
Por Turi Collura
Um estudo sobre “a função” de cada nota da escala maior e seu “significado”.
O artigo de hoje è movido por algumas perguntas iniciais:
– Será que as notas de uma escala são todas iguais?
– Podemos, de alguma forma, encontrar “o significado” de cada nota da escala, sua “função” dentro de um acorde?
Com isso, estou propondo uma breve reflexão para que possamos aprender a “sentir” e interpretar cada nota da escala, cada grau, em relação ao seu acorde.
Falei em escala e falei em acorde, o primeiro sendo o elemento horizontal da música – a melodia – enquanto o acorde representa o elemento vertical – a harmonia. Certamente, os dois elementos, harmonia e melodia, andam juntos, como dois lados de uma mesma moeda.
Já observaram que há muitos livros sobre harmonia, mas poucos sobre a construção da melodia? Ainda, quando se trata de improvisação, há livros que propõem um monte de exercícios de técnica ou de escalas sem explicar “o que fazer com elas”.
Daí o estudo das escalas jônica, dórica, frigia, lídia, etc.
Mais raros são os trabalhos que perguntam:
– Como se constrói uma melodia?
– Como tratar as notas de uma escala?
– Será que elas são todas iguais?
– Vale fazer a análise de melodias observando a “função” das notas?
Se, de fato, ao estudarmos a harmonia, aprendemos que há um centro tonal, que há as funções harmônicas (tônica, subdominante, dominante) e suas respectivas famílias de acordes, será que com a melodia não acontece algo parecido? Se no estudo da harmonia ficamos atentos, por exemplo, à resolução de trítono, será que a melodia também não obedece, de alguma forma, ao conceito de “tensão e resolução”?
Se entendemos a improvisação como uma composição melódica, entendemos que sua existência se dá na relação com a harmonia (e com o ritmo).
Acabamos de ver que:
Podemos dividir as notas da escala em duas categorias: as notas que pertencem ao acorde (a tríade de dó) e “as outras”, que são notas da escala, mas que não pertencem ao acorde. As notas da primeira categoria constituem as que chamo de notas “Alvo”, ou notas de “Repouso”, pontos de chegada (e porque não, de partida também) de movimentos melódicos. As outras notas da escala representam notas ativas, que contém certa “carga”, certa “tensão” melódica. Por essa razão, vou chamar essas notas de notas “Ativas”. A construção de frases se dá, em geral, misturando essas duas categorias de notas, e misturando movimentos em arpejos e movimentos por intervalos de segunda.
Curso, para TODOS os instrumentos. Do Pop ao Jazz, do Choro ao Blues, aprenda como funciona uma melodia.
Analisando cada nota da escala, observamos que:
– Os graus 1, 3 e 5 são estáveis, e não tendem a se movimentar em direção a outras notas.
– O 2º grau tende a se movimentar um tom abaixo em direção do grau 1 (ré-dó).
– O 4º grau possui uma forte tendência a se movimentar um semitom abaixo em direção do 3º grau (fá-mi).
– O 6º grau tende a se movimentar um tom abaixo em direção do 5º grau (lá-sol).
– O 7º grau tende a se movimentar um semitom acima em direção à oitava (si-dó).
Podemos ainda observar que os graus 4 e 7 da escala distam um semitom de sua “resolução” (nada mais são que as notas que compõem o trítono do acorde de dominante).
O 2º grau pode, eventualmente, se movimentar para o 3º, assim como o 6º pode se movimentar para o 7º.
De forma mais completa, podemos resumir o movimento das notas como mostra a próxima figura:
Podemos imaginar as notas da escala e suas tendências de movimento como sendo as letras do alfabeto que, quando combinadas entre si, produzem as sílabas. Essas, por sua vez, se combinam em palavras, que combinadas com outras palavras, produzem as frases.