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A escola de Notre Dame de Paris e o surgimento da polifonia

Notre Dame de Paris e a polifonia

A escola de Notre Dame de Paris e o surgimento da polifonia

Por Turi Collura

Enquanto o incêndio de 15 de abril destruía a catedral gótica de Paris cuja construção teve início em 1163, não podíamos deixar de lembrar da importância que ela teve no contexto da história da música ocidental.

 

Patrimônio da humanidade e da UNESCO desde 1991, até os seus últimos dias a catedral foi cenário de frequentes concertos, entre os quais os de órgão foram os mais conhecidos e apreciados.

 

A catedral foi sede da chamada ESCOLA DE NOTRE DAME, onde, entre os séculos XII e o começo do século XIV, se desenvolveu a polifonia.

 

Segundo os documentos que chegaram até os dias de hoje, o primeiro maestro de Notre Dame foi Leonino (Léonin, em francês ou Leoninus, em latim), que organizou o Magnus Liber Organi, ou “Grande Livro dos Órgãos”, uma coleção de cantos religiosos. A partir desse repertório, Leonino introduziu o “organum duplum”, em que a voz superior (o duplum) e a inferior (tenor) traçavam melodias separadas.

 

A prática do “organum” acrescenta uma segunda voz aos cantos, com a finalidade de ampliar a presença musical no ritual religioso.

 

Uma das obras mais conhecidas de Leonino é o “Viderunt omnes”. A sua elaboração se dava de duas maneiras diferentes. Sobre as palavras “Viderunt, Notum fecit, salutarem suum ante conspectum gentium revelvit” as notas da melodia litúrgica possuem uma longa duração (de onde vem o nome tenor, ou seja “note tenute”), enquanto a voz superior realiza movimentos melódicos rápidos. Já, sobre as palavras “omnes” e “dominus”, a voz superior acompanha, quase nota por nota, a melodia litúrgica. Esse estilo é chamado, por alguns estudiosos, de discantus.

Um segundo maestro de Notre Dame, Perotino (Pérotin em fancês ou Perotinus, em latim), reelaborou as composições de seu precursor, elevando a polifonia até quatro vozes simultâneas.

A Escola de Notre Dame foi composta, com muita probabilidade, de numerosos músicos que foram, ao mesmo tempo, compositores, cantores e teóricos. Nesse período se abandonou a improvisação em favor de uma maior elaboração das composições musicais.

 

O desenvolvimento da notação musical

A complexidade do canto polifônico resultou no desenvolvimento da notação musical. Criaram-se, então, os chamados modos rítmicos, um tipo de escrita musical que possibilitava a determinação da duração das notas no tempo.

A catedral de Notre Dame contemplava 3 órgãos, dos quais o órgão maior era a grande atração.

Orgao de Notre Dame de Paris - detalhe

Detalhe do Órgão maior.

Teclados e Registros do Órgão maior.

Notre Dame em chamas - Paris 15 de abril de 2019

O incêndio de 15 de abril de 2019 que devastou a catedral.

 

Notre Dame foi o monumento histórico mais visitado da Europa.

Para ler sobre a história da catedral clique aqui.

Turi Collura

Turi Collura é pianista, compositor, músico profissional. Atua como professor em Cursos de Pós-Graduação, em Conservatórios e Festivais de música pelo Brasil e no exterior. Formado na Itália em Disciplinas da Música (Bolonha) e na Escola de Jazz (Milão), é Mestre pela UFES, e Pós-graduado pela mesma Instituição. Turi é Coordenador Pedagógico do Terra da Música e Professor de alguns cursos online. É autor de métodos em livros e DVD (Improvisação, Piano Bossa Nova, Rítmica e Levadas Brasileiras para Piano), alguns dos quais publicados pela Editora Irmãos Vitale e com tradução em inglês. Ativo na cena musical como solista, músico de estúdio e arranjador, tem participado da gravação/produção de diversos discos. Em 2012, seu CD autoral “Interferências” ganhou uma versão japonesa. Seu segundo CD faz uma releitura moderna de algumas composições do sambista Noel Rosa.

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