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As muitas escalas do Blues

Escalas do blues

As muitas escalas do Blues

Por Turi Collura

Na semana passada apresentei as características do blues, falando de formas e das blue notes (para ler o artigo clique aqui).

 

Nessa nova publicação iremos falar das “Escalas do blues”. O título desse tópico gera certa curiosidade: existem diversas escalas? A resposta, já de antemão, é “sim”. Ao longo do estudo teremos a oportunidade de “saborear” sua sonoridade e de entender os seus mecanismos. Vamos começar esse estudo assistindo ao próximo vídeo.

Fixando os conceitos

 

A escala mais simples a ser usada no Blues é a pentatônica menor. Oferece uma sonoridade bem característica.

Uma só escala (a penta-menor construída sobre o acorde I7) pode ser aplicada livremente à inteira estrutura harmônica do Blues, isto é, sobre todos os acordes da estrutura.

Logo, podemos acrescentar uma nota à escala: o #4 (ou b5).

Da mesma forma que com a escala anterior, podemos utilizar uma única escala (construída sobre o primeiro grau) sobre a inteira estrutura do Blues.

 

Qualquer gênero musical possui a própria bagagem de frases típicas. Isso é muito importante no Blues, em que as frases típicas constituem padrões melódicos recorrentes, facilmente reconhecíveis. Usando as duas escalas apresentadas acima é possível ter acesso a inúmeros padrões que fazem parte do repertório blues. Veja, na figura a seguir, alguns exemplos de frases típicas (todos os exemplos em C). Os exemplos são acompanhados por um áudio:

Analisando as escalas apresentadas

 

Podemos observar que se trata de duas escalas menores aplicadas a três acordes de dominante. Como isso é possível, em termos tonais? Vamos analisar a escala de C penta-menor à luz do acorde C7: observamos que o acorde tem 3ª maior e a escala possui 3ª menor. A imagem a seguir mostra as notas da escala em sua relação com cada acorde:

Quero evidenciar, nesse ponto, duas características do Blues, oriundas da cultura africana.

 

A primeira diz respeito à ideia de termos diferentes camadas: temos um elemento fixo, uma camada fixa – a melodia – e uma camada mutante – a harmonia. Isso é muito interessante, é outra maneira de se realizar a ideia de tensão e resolução, de se realizar a ideia de afastamento e de volta ao centro.

 

A segunda característica diz respeito à entoação das blue notes: cada bloco abaixo pode ser visto como “elemento único”, onde, por exempo, b3 e 3 são um único fenômeno sonoro.

É interessante observarmos que a entoação do 3º grau da escala é sempre realizada com um glissando em direção ascendente, mesmo que estejamos percorrendo a escala de forma descendente, como mostra a figura a seguir:

Na escala apresentada acima acrescentamos o #4 (ou b5), que podemos considerar outra blue note. Logo acrescentamos mais duas notas à escala: os graus 2 e 6:

Exemplos de frases que utilizam as notas b3 e 3:

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Concluindo

 

No final desse percurso, temos uma escala quase cromática. Podemos ver a escala como uma escala maior (escala jônica) à qual acrescentamos notas blues nos graus 3, 5 e 7.

 

Podemos concluir que não existe “uma” escala de Blues, mas sim uma ampla gama de escalas que podem ser utilizadas em contextos e estilos diferentes para alcançarmos uma sonoridade blues.

 

Observamos, também, que a sonoridade do Blues não se reduz apenas às escalas utilizadas, mas sim a um rico repertório de frases características.

Uma curiosidade

 

O termo “Blues” faz referência a duas frases características que deram origem ao nome. A primeira é “to have the blue devils”, ao pé da letra “ter os diabos azuis” ou seja estar melancólico, saudoso, triste e, ao mesmo tempo, uma estar com uma certa raiva. De onde veio, também, a expressão “to be blue”. As letras dos antigos blues falavam, frequentemente com uma certa ironia, da liberdade dos negros, das condições econômico-sociais, das dificuldades do cotidiano e de sonhos de “terras prometidas”.

Clique e leia também o meu artigo sobre A Evolução da harmonia do Blues

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Turi Collura

Turi Collura é pianista, compositor, músico profissional. Atua como professor em Cursos de Pós-Graduação, em Conservatórios e Festivais de música pelo Brasil e no exterior. Formado na Itália em Disciplinas da Música (Bolonha) e na Escola de Jazz (Milão), é Mestre pela UFES, e Pós-graduado pela mesma Instituição. Turi é Coordenador Pedagógico do Terra da Música e Professor de alguns cursos online. É autor de métodos em livros e DVD (Improvisação, Piano Bossa Nova, Rítmica e Levadas Brasileiras para Piano), alguns dos quais publicados pela Editora Irmãos Vitale e com tradução em inglês. Ativo na cena musical como solista, músico de estúdio e arranjador, tem participado da gravação/produção de diversos discos. Em 2012, seu CD autoral “Interferências” ganhou uma versão japonesa. Seu segundo CD faz uma releitura moderna de algumas composições do sambista Noel Rosa.

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